História de Vieira de Leiria
Na década de vinte deste século, Aquilino Ribeiro anotava no Guia de Portugal: "Vieira de Leiria, com as suas fábricas de vidro e de limas. Desce-se agora para os talhões das Eirinhas semeadas de picotas, e não tarda nada que se entre na mata nacional de Leiria. A 3,7 km da Vieira, a praia de Vieira, enorme. Mulheres por vezes muito belas e robustas pintadas de verde, de azul ou de zarcão".
Se o mestre Aquilino ainda fosse vivo e retornasse a esta freguesia, continuaria a ver o vidro e as limas ainda empregarem muitos dos seus habitantes; já na Praia da Vieira, encontraria muito poucas das características habitações de madeira.
Mais contemporâneo, José Saramago refere-se à freguesia na sua Viagem a Portugal: (...) o dia está luminoso, e vivíssimo de claridade, e já se sente o mar. Em Vieira de Leiria há uma Santa Rita de Cássia seiscentista, que o viajante vai espreitar e que por si mesma merece a visita. Aí está agora a praia da Vieira, toda aberta para sul, a foz do Lis logo acima. Há barcos na praia, de curvas e afiladas proas, os longos remos postos ao través, à espreita de que a maré favoreça e haja esperança de peixe".
A área da freguesia é constituída por dois elementos geológicos. Um deles, representado por uma cobertura de areias de praia e de areias e dunas, ocupa toda a faixa litoral; podemos, ainda, incluir as aluviões do rio Lis. Na margem sul deste rio, entre as dunas do litoral, a faixa aluvial é muito estreita e os aluviões penetram numa depressão interdunar situada junto à Praia da Vieira.
Estas condições especiais permitem que, na freguesia, se pratique alguma agricultura, principalmente nos lugares de Boco e da Passagem. Não sendo a lavoura uma actividade exclusiva, já que a maior parte dos agregados possuem membros empregados na indústria ou no comércio, as explorações agrícolas são de pequena dimensão, ao nível familiar.
Em 1512, Monte Real separou-se da freguesia de S. Tiago do Arrabalde e constituiu, com os seus moradores, uma nova freguesia, de que também fazia parte Carvide e a Vieira. Já em 1740, a Vieira estabeleceu-se como freguesia
A primeira referência documental ao nome da freguesia aparece em 1527, no Cadastro da População do Reino: "(...) aldea de Carvide cõ casaes da Vieira e da Pasagem, 30", o que significa que, por aqui, existiam 30 fogos, o que correspondia a uma população estimada entre 100 a 135 habitantes. Crê-se que o crescimento desta zona tenha tido lugar a partir daquela época. É que, como diz o "Couseiro" ou Memórias do Bispado de Leiria "no logar da Passagem está uma ermida, da invocação de Nossa Senhora da Ajuda, feita no anno de 1614". E "outra no logar da Vieira, da invocação de Nossa Senhora dos Milagres, imagem de vulto, feita no anno de 1615". A construção desses templos é indício bastante para acreditar no grau de desenvolvimento atingido pelas duas povoações.
O século XVIII ficou marcado pelo crescimento imenso de Vieira de Leiria, paralelo ao intensificar da exploração do Pinhal. Dá-se então a criação da freguesia e, dezoito anos depois, já existem 200 fogos e 600 moradores.
As principais ocupações da população estavam ligadas à mata, com especial destaque para o corte e serração de madeira e para o fabrico de resina. Existe documentação coeva que permite concluir que esta freguesia suplantava quaisquer outras localidades da periferia do pinhal que eventualmente também tivessem a serração braçal como actividade dominante. Em 1767 é inaugurada a igreja matriz de Vieira, mas em 1783 é feito um novo arco na capela-mor por se considerar demasiado pequeno o inicial.
O século XIX marcaria novos contornos no desenvolvimento de Vieira; primeiro, as obras de regularização do leito do Lis, depois a Invasão Francesa de 1810. Fugindo dela, o povo refugiou-se no Pinhal do Rei, onde escondeu os haveres que conseguiu transportar; no fim, o saldo desta invasão foi muito desfavorável para os Vieirenses. Quase metade da população foi dizimada por epidemias e mais de metade das casas foram destruídas ou danificadas pelos franceses.
Com a chegada do século XX, a Vieira vai-se tornar protagonista de uma das mais singulares migrações internas que Portugal conheceu — a dos "avieiros". O agravamento das condições de vida dos pescadores, aos quais a vila nada mais tinha para oferecer para além de um inverno rigoroso e muita fome, criou um grande fluxo migratório em direcção ao Tejo. Grandes comunidades de avieiros foram-se estabelecendo junto das vilas ribeirinhas, encaminhando-se depois, para o tráfego comercial fluvial e terrestre. As maiores movimentações terão ocorrido entre 1919 e 1939. Durante décadas, esta gente dividiu a sua vida entre o verão em Vieira e o inverno no Tejo, entre a arte xávega da sardinha e a arte varina do sável; contudo, chegou o dia em que deixaram de regressar durante o Verão. E para sempre ficaram ligados à história do Tejo, os homens de Vieira, os avieiros.
Contextualização histórica
O nome "Vieira de Leiria" poderá advir de “vieiro” (metal), devido às abundantes indústrias metalúrgicas existentes na região, ou do termo latino “vena--venae” (o que tem conduto de água), ou ainda, segundo alvitra o povo, das conchas caneladas denominadas “vieiras” que existiriam outrora nos extensos areais.
A irregularidade do rio colocou por algumas vezes em perigo as habitações dos pescadores, o que levou a que, nos princípios do séc. XIX, se empreendessem trabalhos para regularizar o seu leito, tornando o rio navegável. Construiu--se o molhe e também as “Tercenas”, barracões destinados ao armazenamento de penisco (pinhão, madeiras, resinas e pez) e mais tarde de vidros vindos da Marinha Grande, cereais e alcatrão. Estes produtos eram devidamente empilhados e arrumados para que, em período de boas marés, pudessem ser embarcados nos barcos que aqui aportassem. A navegabilidade do rio e o incêndio que destruiu uma grande parte do pinhal contíguo em
São Pedro de Moel, onde eram anteriormente feitos os embarques das madeiras do Pinhal de Rei, levaram a que, em 1824, D. João VI determinasse que estes embarques se passassem a fazer na Foz do Lis.
Em 1840 foi fundada uma fábrica de vidro no sítio do cais e nela se fazia somente vidraça. Funcionou até 1945. Ainda em 1840 há a registara construção de algumas pequenas embarcações. Vieira de Leiria era então, um aglomerado significativo composto por construtores navais, vidreiros, pescadores, ferreiros e serradores.
Todavia mais tarde, em meados do séc.XIX, foi implementada nesta freguesia a indústriadas limas, na época um utensílio de grande precisão nos trabalhos de serração do Pinhal. Vieira de Leiria tornou-se o mais importante centro de fabrico de limas do país.
in Guia Turístico Marinha Grande
A irregularidade do rio colocou por algumas vezes em perigo as habitações dos pescadores, o que levou a que, nos princípios do séc. XIX, se empreendessem trabalhos para regularizar o seu leito, tornando o rio navegável. Construiu--se o molhe e também as “Tercenas”, barracões destinados ao armazenamento de penisco (pinhão, madeiras, resinas e pez) e mais tarde de vidros vindos da Marinha Grande, cereais e alcatrão. Estes produtos eram devidamente empilhados e arrumados para que, em período de boas marés, pudessem ser embarcados nos barcos que aqui aportassem. A navegabilidade do rio e o incêndio que destruiu uma grande parte do pinhal contíguo em
São Pedro de Moel, onde eram anteriormente feitos os embarques das madeiras do Pinhal de Rei, levaram a que, em 1824, D. João VI determinasse que estes embarques se passassem a fazer na Foz do Lis.
Em 1840 foi fundada uma fábrica de vidro no sítio do cais e nela se fazia somente vidraça. Funcionou até 1945. Ainda em 1840 há a registara construção de algumas pequenas embarcações. Vieira de Leiria era então, um aglomerado significativo composto por construtores navais, vidreiros, pescadores, ferreiros e serradores.
Todavia mais tarde, em meados do séc.XIX, foi implementada nesta freguesia a indústriadas limas, na época um utensílio de grande precisão nos trabalhos de serração do Pinhal. Vieira de Leiria tornou-se o mais importante centro de fabrico de limas do país.
in Guia Turístico Marinha Grande